(pág. 283)
Georg August Dreher
Foi
um imigrante que veio para o Brasil, em 1856, e aqui formou a sua família. Nela
viveram 3 artistas: Georg,
Frederico (filho) e Gerson (tataraneto).Georg August Dreher nasceu em Hettenroth,
Alemanha, em 02 de setembro de 1830.
Emigrou de Bremen com seus irmãos Jean, Gustav, Julius e irmãs Emilie e Philippine.
Casou-se em Campo Bom, a 12 de março de 1857, com Elizabetha Vohl e tiveram oito
filhos: Julius, Rudolf (bisavô de Gerson, autor do livro
Eco entre Paredes), Jacob, Adolf e Frederico Augusto (construtor do
Oratório), Emília, Augusta e provavelmente um outro, falecido, quando novo.
Faleceu, em Linha Café, a 19 de fevereiro de 1886.
Carta escrita por Georg August Dreher, após dois anos da emigração ao Brasil, transcrita e
traduzida da mesma, que se encontra no museu Armindo Lauffer,
em Três Coroas:
Mundo Novo, 16 de março de 1858.
Querido cunhado e irmã!
Primeiro, desejo desculpar-me perante vocês por estar
escrevendo somente agora. Vocês certamente pensam que eu já os tenha esquecido completamente.
Mas esse não é o caso porque cada vez que eu escrevia para casa mandava
lembranças a vocês, que espero que tenham sido transmitidas. Também enviei,
junto com outra carta, uma carta para Kullmann, que
espero que tenha recebido.
Através de minha cunhada Jette,
nos foi entregue o belo presente de casamento (dado por vocês). Nós agradecemos
muito e esperamos que, mais tarde, também possamos retribuir com algo bonito ou
possamos levar algo pessoalmente para lá, se Aquele que se encontra acima de
nós, assim o permitir.
Nós recebemos a carta da irmã Binchen.
Mas ela, assim como a Emilie, não mora mais em São
Leopoldo. Ambas já foram embora depois que casaram e moram mais ou menos a 6 dias de viagem longe de nós e não sabemos se algum dia nos
veremos de novo.
Com alegria, notamos na carta de vocês que todos se
encontram bem. Que continue assim é o que desejamos de todo coração. Referente a nós, graças a Deus, estamos satisfeitos e com
saúde. Nós morávamos, até agora, com o irmão Jean. Bem próximo a ele, compramos
uma propriedade para nós, uma meia colônia, por 1.700 mil réis. Muito dinheiro,
mas é uma terra boa e bonita com uma bonita casinha. Essas ainda são muito
raras aqui nesta zona porque todos os colonos têm choupanas aqui.
Jean e sua família estão igualmente muito bem e, se eles receberem alguma ajuda de
casa, daí vai ser melhor. Eles trabalham muito.
No mês passado, também escrevi ao cunhado Kullmann, bem como a meu sogro. Eu mando, junto com esta,
duas pequenas cartinhas, as quais peço entregar aos referidos acima, caso não
tenham recebido as outras. Eu lhes escrevi se não poderiam
me mandar algum dinheiro para pagar a minha propriedade. 500
mil réis já paguei, mas tive (pág. 285) que pedir emprestado um pouco.
Se me mandarem alguma coisa até o fim do ano, ficaremos muito
bem, caso contrário, estaremos em apuros.
Mas eu espero que a minha lapidadora possa ser leiloada por
um bom preço e que também as outras coisas estejam em ordem. Peço-vos que
entreguem logo as cartas em mãos.
Não está nos agradando muito aqui por enquanto, embora nada
nos tenha faltado. Até agora não tivemos que nos preocupar com nada a não ser
conosco. Filhos ainda não temos e sabe-se lá se, algum
dia, teremos.
No ano que passou, ganhamos bastante dinheiro. Minha esposa
costura e eu, com minha gaita, dou aulas de música.
Mas, neste ano, a coisa está diferente, pois, desde que compramos as terras, precisamos
trabalhar muito na roça, pois, quando se tem tanto a pagar, tem que se plantar
muito. Os produtos, este ano, estão ruins no preço, nem a
metade do ano passado, e tudo que se precisa comprar está exageradamente
caro, como café, açúcar, arroz, farinha, bem como todos os tecidos e tudo mais.
Eu garanto a vocês que o ano que passou, nos custou muito,
porque nenhum de nós tinha alguma coisa que fosse necessária numa casa, a não
ser alguns lençóis e toalha. Era tudo. Nós não tínhamos cama, nem facas,
garfos, bacias, xícaras. Conseguir tudo isso completo nos custou muito. Mas
agora, graças a Deus, essas coisas não nos faltam mais.
Eu só desejaria que eu tivesse uma porção de bonitas pedras,
então não ficaríamos por muito tempo aqui, pois aqui é uma terra virgem e crua,
com uma palavra só: uma terra de macacos.
A gente vive livre aqui, mas não é uma vida como na
Alemanha, principalmente quando não se está acostumado a isso. Pode ser que,
talvez algum dia, venha nos agradar muito aqui. Não se sabe. Mas isto eu
prometo e confirmo: se eu, com a ajuda e a bênção de Deus, for bem feliz aqui,
pelo menos, queremos visitar vocês, pois eu penso que vocês não quererão vir
aqui, e nisso, naturalmente, vocês tem razão. Vocês,
pelo menos, vivem num mundo civilizado onde não se corre perigo de vida.
Se eu quisesse contar-lhes todas as vilezas e barbaridades,
etc... que os alemães (imigrantes) fazem uns contra os
outros, não teria lugar suficiente. Ainda neste mês, um foi executado que,
alguns tempos atrás, matou dois e agora, na prisão, novamente matou mais dois.
Coisas assim não são raridade.
Vocês, escrevam sobre a grande seca
que teve aí na Alemanha. Igualmente aqui, neste ano, quase secou tudo e, na
primavera, tudo quase morreu de tanta chuva. O tempo aqui não é tão instável
como na Alemanha. Mas, às vezes, quando inventa de chover, chove várias semanas
e o que pode vir do céu para baixo. Depois, também se pode ficar sem uma gota
de chuva durante meses.
Quão repentina e inesperadamente; a
morte chega para nós; Por isso, esteja preparado a todo o momento; para a sua
chegada |
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Há alguns meses, recebi uma carta do cunhado P.H.Wild também. Até agora, ainda não mandei a resposta para
ele. Ele escreveu-me acerca da compra de pedras que se encontram aqui, mas sem
dinheiro não se pode fazer nada. E, por cima de tudo, essas pedras não me
agradam muito. Pode-se comprá-las barato, mas lá sei se elas darão algum lucro.
Recomendem-me a ele e toda sua família e digam a ele que sobre as pedras,
acerca do que ele me escreveu, não deu em nada.
(pág. 287
Nada mais, neste momento, eu posso escrever. Recomendem-nos
a todos os conhecidos e parentes, sem exceção, de todo coração, bem como a toda
vossa família, às queridas crianças.
De vosso cunhado e irmão
August Dreher
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Oratório construído por Frederico Augusto
Dreher |
P.S. Muitas lembranças de minha querida esposa,
de Jean e sua esposa e de todos os parentes daqui. Aos primos de Jacob não
mando lembranças e deles a vocês, pois esses
maltrapilhos nos deram muito que fazer. É vergonhoso o que fizeram. Caluniaram
toda a nossa família e nos levaram a ficar desacreditados
perante os outros através de mentiras infames e xeretices.
Toda mentira possível de lá, da Alemanha, calúnias infâmias
espalharam por aí, que a gente tem vergonha de se encontrar com as
pessoas. A velha Trasche e a mulher de Phillip são as piores. Não se admirem desta gentalha
ordinária e miserável.
Não teriam morrido na miséria, não teriam que ter mendigado
essa gentalha ordinária, se não tivéssemos sido nós antigamente? Agora, eles
querem ser grande coisa. Vocês conhecem bem a sua maneira
de ser. Mas, aqui, eles são orgulhosos e, ainda, agem como se não tivessem tido
necessidade de vir para cá. E mal e mal conseguiu essa gentalha juntar alguma
coisa para que pudesse pagar a sua viagem e bagagem.
O mesmo
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Carta de Georg August Dreher |
Trechos de versos escritos por Georg
August Dreher, no dialeto da época, extraídos do
Almanaque do Sínodo Rio-Grandende, de 1957.
Me diz, compadre meu, como é esta história: Ouvi por esses dias, que lá em Porto Alegre, estão planejando uma grande exposição, onde serão expostas as coisas mais bonitas, porém de toda qualidade só um pouco, de feijão, milho, arroz entendes, mandioca, batata e farinha, e para lá gostaríamos de ir. |
Poesia em dialeto do Hunsrück, de Georg August Dreher, referindo-se
à Exposição Brasileiro-Alemã, destruída, num incêndio criminoso, em Porto
Alegre, em 1881.
Este registro marca a
visita das irmãs Gládis Behs
e Rony Kichler,
tataranetas de Georg August Dreher,
ao casal Helmut e Elfriede
Lorenz, atuais proprietários da casa em que foi encontrada a carta, e que são netos da irmã para quem o
documento fora endereçado. A residência está localizada na cidade de Idar-Oberstein, na Alemanha. A carta foi encontrada entre
as paredes, no sótão da casa, há mais ou menos 20 anos e trazida ao Brasil
pelo próprio casal que a entregou à amiga Clara Koetz
que, posteriormente, a encaminhou ao Museu Histórico Armindo Lauffer, em Três Coroas. A família Lorenz,
ao encontrar a carta durante a reforma da casa, reuniu-se, ao meio-dia, para
a leitura em voz alta e chorou, copiosamente, ao conhecer a saga de seus
ancestrais, no longínquo Brasil. |
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