(pág. 289)
Cartas
para o Brasil
Sohren, aos 27.10.1859
Mui queridos amigos, cunhados, cunhada, caros parentes!
Com grande saudade, esperamos uma carta de vocês, pois a
nossa esperança e a nossa expectativa pareciam em vão, mas, finalmente, vocês
nos escreveram, depois que todos os que foram com vocês ao Brasil haviam
escrito.
Como a irmã de vocês gritou e chorou, dia e noite, por
vocês! Até o sono fugiu de seus olhos. Em sonho, ela sempre estava com vocês,
mas, quando acordava, tinha sido apenas um sonho e a tristeza tornou-se sempre
maior.
Ela já havia ouvido, por aí, que vocês haviam chegado bem ao
Brasil. Mas como estará agora? Ficaram todos juntos? Estão, ainda, vivendo todos?
O que nossos sogros e nossos pais estão fazendo? Agrada-lhes viver, nesta terra
estranha, ou não? Isto tudo são perguntas que os parentes de vocês gostariam de
ver solucionadas.
O padrinho de vocês, Eberts, sua
esposa e filhos vieram a nós e disseram: Não vão eles, finalmente, escrever?.
Nós e todos os amigos de vocês e bons amigos esperam, com muita paciência, por
uma carta de vocês. E aí, finalmente, no dia 9 de
dezembro, ao anoitecer, veio a tão esperada carta de vocês!
Nossa casa (Gauer Philipp), nesta mesma noite, ficou muito pequena para
abrigar todas as pessoas que queriam ouvir como vocês iam. E, finalmente, quando
estavam lidas todas as cartas e, quando haviam rolado algumas lágrimas de
tristeza e de alegria nas nossas faces, os nossos corações se sentiram
aliviados e, com muita alegria, notamos, que vocês estão satisfeitos com a
situação.
Nós agradecemos, insistentemente, a Deus, pela proteção dada
a vocês, no grande oceano, e agradecemos, principalmente, por tê-los ajudado a terem
uma boa saúde e muita motivação.
Dizemos mais uma vez: as cartas nos reanimaram e as nossas
dores e lágrimas secaram.
Vocês já estão livres de preocupações com comida. Mas uma
coisa aperta-nos o coração: é que vocês estão morando tão longe, aí no Brasil, muitas
montanhas e vales nos separam, bem como o oceano profundo. Nosso coração, aqui
na Alemanha, bate por vocês, como se vocês estivessem morando aqui, entre nós.
Tomara, que tudo vá sempre bem e que nós possamos só ouvir coisas boas de
vocês. Queiram, sempre, a infelicidade e a maldade ficar longe de vocês.
Permaneçam, sempre, piedosos e mantenham uma conduta correta, pois, para estas
pessoas, só acontecem coisas boas.
Agora, queremos contar-lhes como as coisas vão aqui e o que
aconteceu, desde a partida de vocês.
Meu irmão Philipp casou com a Mahlchen Faber e meu pai achou
que nós poderíamos viver na mesma casa, mas isto não por muito tempo e sob as seguintes
condições: meu pai teria que repartir as coisas e meu irmão queria seus bens e
foi morar na casa de Scheidweiler e, lá, ele mora,
atualmente.
Minha vó morreu no início do ano.
Quando meu cunhado Heinrich Peter se despediu do irmão,
em Würrich, tocavam, naquele momento, os sinos das
seis da tarde, em Würrich, e meu cunhado falou: Esta é a última vez que ouço estes sinos. Isto tocou, tão
profundamente, seu coração, que ele ficou melancólico e uma profunda tristeza o
envolveu. A conseqüência foi: 8 dias depois, acometido
de profunda tristeza, ele pulou no poço e se enforcou! Foi um destino duro!
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Isto aconteceu, no início do ano, quando eu mesmo tive que
assumir a manutenção da casa. Tudo isto me abateu.
Eu me decidi a adquirir uma vaca, que está por ganhar um
bezerro e que tem um valor entre 45 a 48 Taler (moeda de prata até o Século XVIII).
Desde que vocês viajaram, tivemos, sempre, boas colheitas de
grãos, como há muitos anos não tínhamos. Também, as
batatas inglesas deram bem e a podridão delas terminou quase por completo.
Os preços dos meios de subsistência estão tão bons e cada um
pode comprá-los. As dificuldades, que, antigamente, existiam, não existem mais.
Agora, mais uma coisa que nos interessa muito e que nos faz
pensar, é que vocês não escreveram nada sobre os pais e os sogros de vocês e que,
talvez, tenham ficado, logo depois que vocês entraram neste país, junto ao
cunhado Heinrich Peter, na proximidade do primo Gölzer.
Vocês não poderiam falar para eles que vocês nos escreveram?
E que eles, assim como vocês fizeram, poderiam nos dar notícias de como eles vão,
escrevendo uma carta. Isto nos parece muito estranho e a
filha deles pede muito por eles. Vocês emigraram, o quanto ela gostaria
de saber como o pai e mãe vão! Vocês nem podem imaginar quanto incômodo estas
dúvidas nos trazem. Façam-lhes saberem das coisas.
E, agora, mais algumas palavras sobre o padrinho de vocês e
sobre o querido primo Gölzer. Quantas lágrimas
mornas, eu e todos os meus já derramamos por vocês!
Nós te imaginamos, incansavelmente, Hansjakob,
como também os teus, como um membro da própria família e, na despedida de vocês,
me pareceu que um pedaço do meu coração ia junto. Como nós choramos, imploramos
e rezamos para que o bom Deus, sempre, os protegesse levando-os bem, para esta
terra, para a qual os desejos e as ânsias de vocês estavam direcionados. Nunca
vamos esquecê-los, também a ti, querido Adam, não!
Não passa um dia sem que vocês sejam recordados. Quão
regiamente nós nos alegramos, quando vi e li a carta. Chorei de alegria, como uma
criança, ao notar que ia tudo bem com vocês. Queira Deus que tudo sempre vá bem
e cada vez melhor!
Prosseguindo, eu gostaria de saber mais, pois nem tudo está
bem claro na carta. Como puderam viver, os teus e os pais de vocês, junto ao Heinrich Peter e em que situações e acomodações? Será que ouvi
bem, que este último comprou uma mina de ouro com altos preços?
Moram, os sogros, na mesma colônia? Eles têm parte nas
terras ou arrumaram alguma outra coisa com a qual vivem? Ou o Heinrich Peter providencia tudo para eles? Pois nós mesmos
não sabemos nada deles e, assim, nós gostaríamos de saber sobre o fim que
levaram.
Eu gostaria, ainda, de saber como foi o eclipse solar junto
a vocês, pois deve ter sido bem visível. Aqui, o eclipse também ocorreu, no dia
7 de setembro, porém não foi visível.
Na noite dos dias 18 a 19 de novembro, nós tivemos, aqui e
em todo Hunsrück, uma forte chuva de pedra. Todas as
árvores e folhas estavam cobertas de gelo e a maioria das árvores mais bonitas
haviam quebrado e caído nos lugarejos e nos matos. Foi uma visão espetacular. Ninguém
tinha lembrança de uma precipitação igual.
O Dillenburg de Altlay está novamente aqui. Ele nem fala sobre o Brasil e
não entendeu, ainda, completamente, o que ocorreu. Como a gente imagina as
coisas, assim, elas acontecem.
O Peter Meurer manda lembranças,
todo preocupado, e se alegrou por terem se lembrado dele e deu 5 Sgr. para
a carta que custou 1 Taler e 22 Sgr.
Os Hottenbacher também se
alegraram muito, quando lhes levei a carta de Peter Gauer
e de Gölzer, no Domingo antes do Natal. Eles também tomaram
parte na alegria pelo bem estar de vocês. No mais, está tudo bem com eles, só o
cunhado Jacob morreu, há 2 meses. Ele sofreu muito, durante
um meio ano, e estava acamado. Foi um golpe duro, pois tinha cinco crianças
pequenas e a mais velha tem 11 anos.
O cunhado Adam casou e sua esposa é de Schauren.
O Michael Gerhardt de Stipshausen
manifestou o desejo de que queria e desejava estar com vocês. Nós mandamos
todas as cartas ao irmão Peter, em Saarlouis,
e ele se decidiu que, após terminar o serviço militar, e quando os
papéis estiverem em ordem também quer, em nome de Deus, fazer a grande viagem e
ir até vocês. Vai ser um reencontro feliz, depois de tantos anos de separação.
Quando vocês escreverem de novo, escrevam também no papel do
envelope, pois ele custa (pág. 293) apenas 17 Sgr., e as cartas de pessoas não conhecidas
podem ser enviadas, diretamente, por eles, a seus parentes. Assim, diminui o
peso e por que nós vamos pagar o transporte postal para outras pessoas?
Escrevam logo de novo, pois toda palavra, que nós ouvimos de
vocês, nos é querida e tem muito valor.Também o Seresse e o velho Bonn mandam
cordiais saudações.
Também, o escrevente desta carta, o qual vocês já citaram,
toma parte na alegria de vocês e se alegra muito pela dedicação ao trabalho e pela
perseverança, pois o que vocês disseram, como as coisas iam
no início, isto é fácil de escrever, mas difícil de viver.
Certamente, vocês tiveram muitas noites mal dormidas e,
certamente, muito incômodo tomou conta de seus corações, mas o trabalho e a perseverança
fizeram com que vencessem todas as dificuldades. Por tudo isto, sejam gratos a Deus!
Vivam com a felicidade no coração e lembrem-se, também, do
velho amigo, o Professor Müller. Ele e a família
enviam saudações.
Colaboração:
Ingrid Lorenz Hecken
São Leopoldo, 22 de abril de 1889
Queridos Amigos e Parentes Eu já escrevi duas cartas para
vocês, mas, até agora, não recebi nenhuma resposta. Somente uma, que vocês
escreveram para o genro, me fez saber da morte do meu querido esposo.
Mais uma vez, pego na pena para dizer como estou com minhas
crianças e, para que vocês saibam, queridos parentes, que eu não posso escrever
coisas boas. Estou numa situação muito complicada, fraca e
adoentada, sofrendo de fraqueza dos nervos. A morte do meu esposo me abalou
muito.
Quando eu casei, ele tinha 4
filhas, o que vocês também sabiam. Agora, estão todas casadas e a mais nova
delas estava casada, há quatro meses, no dia em que o pai de vocês faleceu.
O esposo dela é pastor, o mesmo que escreveu para vocês. Ele
é professor e se sustenta bastante bem e os outros, também, se sustentam bem e vivem
felizes.
Agora eu estou aqui, parada, sozinha com seis
crianças ainda menores, três meninas e três meninos. A filha mais velha,
Augustina, vai fazer 18 anos, em agosto, a segunda, a
Amália, vai fazer 16 anos e o terceiro, o Jacob, fez 14 anos, em abril. A
quarta, a Mathilde, tem 12 anos. O quinto, o Fritz, tem 6 anos e o sexto, o Konrad,
4 anos. O Jacob e a Mathilde fizeram a confirmação,
em abril. Isto custou muito dinheiro para mim.
Queridos parentes, estou indo muito
mal, pois meu esposo deixou muitas dívidas para trás. Deixou, também, bens,
como casas, que foram divididas entre os fiéis. O inventário custou muito dinheiro
e ainda não está tudo em ordem. O bom Deus deve saber o que vai ser de mim e de
meus filhos. Eu tenho muito pouco lucro. Tenho uma pequena loja, as vendas são
difíceis e o lucro é pouco, apesar de trabalharmos muito.
A Augustina costura numa
alfaiataria para damas. A Amália fica em casa, cozinha, lava roupa e faz, todos
os dias, uma fornada de pão para vender. O Jacob e a Mathilde,
eu queria mandar mais um tempo para a escola brasileira. O Jacob é para
aprender uma profissão, mas, até agora, ele ainda não sabe qual. Eu administro
a loja e costuro. Assim, todos têm uma ocupação . Mas,
assim mesmo, ainda não sei como vou me ajustar, quando a gente não tem nenhum
apoio e nenhum consolo.
Os muitos custos, que eu tive por causa da doença de meu
esposo, inclusive, os custos do enterro, perfazem cerca de 300.000. Provavelmente,
o inventário é maior ainda. Aí, temos que acrescentar ainda os custos das
casas. Tudo cai para mim. Eu não sei o que vai ser nesta época difícil.
Agora, queridos parentes, contei praticamente tudo sobre
minhas preocupações. Vocês mesmos podem tirar conclusões de como nós estamos. Se
estivéssemos mais próximos, poderia chorar minhas misérias e vocês contariam as
suas.
Também gostaria de saber como vocês todos estão. Muitos
irmãos e parentes estão ainda vivos, meu piedoso esposo ainda tinha vontade de
voltar para a terra natal e eu queria estar mais junto dele. Mas, infelizmente,
nós não chegamos a tanto, pois Deus não o permitiu. O que Deus faz, está bem
feito. Eu e meus filhos temos que carregar a dor. Para hoje, tenho que terminar.
Saúdo a vocês todos de coração, a cunhada e tia, e muitas lembranças, por parte
(pág. 295) de meus filhos, para os filhos de vocês todos.
Va (viúva) Amalia
Hemb.
Peço por uma rápida resposta, pois para mim não deve faltar
o que escrever.